
Ela era uma menina de doces sonhos inocentes, que trazia o mundo dentro do peito. Sempre fora diferente. Inconstante. Intensa.
Abrigava todos os sonhos do mundo dentro daquele peito. Um coração imenso. E, ainda assim, pequeno para tantos anseios. Tantas vontades. Tanta inconstância. Ela era borbulhante. Um caldeirão de emoções. Uma constante ebulição de sentimentos.
Ele era lindo. Aos olhos dela.
Mais do que isso. Era de tirar o fôlego. Tinha aquela beleza exótica e
hipnotizante que só os rapazes que amamos têm a capacidade de ter. Ou os astros de cinema.
Encontraram-se em uma tarde ensolarada em um parque qualquer de uma cidade qualquer. Improvável. Mas aconteceu.
Ela, com um vestido de flores.
Ele, taciturno.
Sempre tão sério, sisudo e sombrio.
Ela. Um raio de sol.
Ele. Um buraco negro.
E, tão improvável como previsível, apaixonou-se perdidamente. Ela. Mas sol e lua nunca poderiam conviver por muito tempo no mesmo céu.
Ela era o dia e ele a noite. Ela era a inconstância de todas as coisas. Ele era o universo controlado de quem alimenta vícios. Aquele cuja melancolia é o combustível para continuar vivendo. Uma daquelas pessoas que se alimenta de tristeza. Que acredita que o mundo é um inferno e que a solidão é o remédio. Era um solitário.
Como dois
ímãs, atraíam-se mutuamente. Mas também se afastavam da pior forma possível.
Ela não desistiria. Nunca. Era forte e determinada. Pronta para lutar por ele mesmo que isso custasse seu próprio coração. Sua própria vida.
Lutadora. Era o que ela era.
Mas as diferenças eram latentes. Ela era, afinal de contas, um raio de sol. Ele, o oposto.
Acho que as coisas terminaram daquele jeito terrível porque ele nunca se deixou iluminar. Nunca quis sair da escuridão. Agradava-o ser o homem soturno e
indecifrável. Aquele que cheira a
vodca e tabaco. Aquele em quem os vícios falam mais alto. Era quase uma felicidade ser aquele dominado pela dor. Era um modo de vida.
E, depois de se fazer em pedaços tantas vezes, depois de recolher seus cacos no chão tantas vezes, ela não quis mais. Ela não estava desistindo e sabia disso. Foi ele quem desistiu de si mesmo. Ele quem abriu mão de tudo o que era e poderia ter sido por não ter a coragem de se permitir ser feliz.
E foi em uma tarde chuvosa em um parque qualquer, em uma cidade qualquer, que ela disse adeus. Virou as costas e seguiu com seu vestido branco de flores coloridas. Deixou para trás todas as conversas frias em madrugadas mais frias ainda. Esqueceu o gosto do sexo com ele. E também o amargo da solidão depois, na cama vazia. Sozinha. Abandonou toda a melancolia. Recolheu seus pedaços espalhados pelo chão uma última vez. Secou as lágrimas. Colou-se. Retomou seu brilho de raio de sol, colocou uma flor nos cabelos e foi.
Disse uma única frase. Triste por ele. "Essa tristeza é o seu ópio."
E ele ficou parado. Em baixo da chuva. Com uma garrafa de whisky. Vendo se afastar, em baixo de um guarda-chuva vermelho, provavelmente sua única chance de ser feliz.
* Trecho de um conto sem título ainda que estou escrevendo. A personagem principal foi inspirarada nela.